The Crow foi uma obra icônica dos anos 90, transcendendo sua origem nos quadrinhos e se tornando um clássico cult com o filme de 1994. Dirigido por Alex Proyas, o longa original capturou a estética gótica e a angústia da Geração X, deixando uma marca indelével na cultura pop. O estilo sombrio, aliado a temas de vingança e tragédia, tornou-se uma referência e influenciou diversas obras subsequentes. No entanto, essa mesma identidade forte se tornou um obstáculo para as tentativas de transformar The Crow em uma franquia de sucesso duradouro. As sequências que se seguiram, como City of Angels, Salvation, e Wicked Prayer, não conseguiram cativar novas gerações, deixando a marca presa em um culto de nicho.
Agora, com o novo reboot dirigido por Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador), muitos se perguntam: será que The Crow finalmente encontrou uma forma de renascer, ou este é apenas mais um voo condenado a cair? A resposta não é simples. Enquanto o filme traz algumas qualidades notáveis, ele também sofre de uma evidente falta de coesão que o impede de alcançar todo o seu potencial.
Sob a direção de Sanders, e com o esforço genuíno de Bill Skarsgård e FKA Twigs, The Crow tenta se firmar como uma obra que mescla arte e brutalidade de forma única. O visual do filme é deslumbrante, com uma estética sombria e quase artística que, por si só, poderia torná-lo um novo ícone cult. A cinematografia de Steve Annis (Fundação, I Am Virgin) é um ponto alto, oferecendo um banquete visual que poderia se tornar referência no futuro. No entanto, Sanders peca pelo excesso, tentando inserir uma profundidade dramática e visual que, por vezes, soa forçada em um filme que, essencialmente, deveria ser uma história direta de vingança e redenção com tons sobrenaturais.

A narrativa segue Eric (Skarsgård), um jovem marcado por um passado de violência e traumas que o levam a uma clínica de reabilitação. Lá, ele conhece Shelly (Twigs), uma jovem igualmente atormentada, e os dois rapidamente se apaixonam. No entanto, o romance relâmpago é interrompido tragicamente quando Shelly, que possui provas incriminadoras contra o magnata criminoso Vincent Roeg (Danny Huston), é brutalmente assassinada junto com Eric. Mas a história não termina aí. A alma de Eric, inquieta, recebe uma segunda chance através da entidade espiritual Cronos (Sami Bouajila), que lhe oferece o poder de retornar à terra dos vivos guiado por um corvo. Agora imortal, Eric embarca em uma missão de vingança contra Roeg e seus capangas, na esperança de limpar o mal que assola sua cidade e, assim, libertar a alma de Shelly.

O conceito de vingança sobrenatural é uma ideia poderosa que, nas mãos certas, poderia ter gerado um épico moderno. Contudo, o filme é prejudicado por uma direção inconsistente. Sanders parece dividido entre criar uma obra de arte visual e entregar um filme de ação eficaz, o que resulta em um ritmo irregular que quase quebra a narrativa. A química entre Skarsgård e Twigs é inegável, e a história de amor entre Eric e Shelly é convincente e emocionalmente ressonante. No entanto, o filme gasta tanto tempo construindo o relacionamento e o universo ao redor dele que a parte central da história – a vingança de Eric como o Corvo – acaba sendo relegada a segundo plano. Quando os elementos sobrenaturais e as cenas de ação finalmente entram em cena, o filme já perdeu parte do seu fôlego.

Os roteiristas Zach Baylin e William Josef Schneider tentam explorar temas profundos como a crise de fé de Eric e sua relutância em abraçar seus poderes, mas essas subtramas acabam sendo mais uma distração do que um enriquecimento da história. Com apenas 20-25 minutos de ação concentrada no ato final, The Crow parece estar mais interessado em ser uma meditação sobre trauma e perda do que em oferecer a ação que os fãs esperam.

Embora o filme tenha qualidades, como a performance de Skarsgård, que prova ser mais do que apenas um intérprete de personagens excêntricos e aterrorizantes, e a estética visual deslumbrante, ele falha em encontrar um equilíbrio entre suas ambições artísticas e suas raízes como um filme de vingança sobrenatural. Em vez de um renascimento glorioso, este reboot de The Crow acaba sendo uma tentativa mediana, deixando os fãs a se perguntarem se algum dia a franquia conseguirá capturar novamente a magia do original.

Apesar de suas falhas, The Crow pode ainda encontrar seu caminho como um novo clássico cult, especialmente entre as novas gerações que podem apreciar sua abordagem mais “emo” e contemporânea. Mas, para aqueles que esperavam um retorno à glória do passado, este reboot provavelmente será mais uma decepção. Ainda assim, é impossível ignorar o potencial inexplorado que o filme apresenta, e quem sabe, em futuras iterações, The Crow possa finalmente encontrar o equilíbrio que tanto busca.
Fonte: COMICBOOK